terça-feira, 2 de junho de 2015

DOS DOGMAS, CONTRADIÇÕES E FRAUDES I

Por que algo é declarado santo e nós temos que aceitar o que nos impingem? Por que o Rig-Veda, o Shvetashvatara Upanixade, o Bhagavad Gita, o Corão, A Torah e o Novo Testamento são considerados livros santos que não podem ser refutados? Eles são diferentes, refletem realidades distintas e defendem pontos de vista absolutamente díspares... Qual deles é o verdadeiro? Por que, então, temos que aceitá-los? Porque são convencionados santos.

Mas de onde partem as convenções senão dos homens, que se organizam socialmente e estabelecem as normas a serem seguidas? A melhor maneira para compreendermos a organização social é lançar um olhar, ainda que breve, sobre a história. O sagrado, o santo, é uma ideia dos primórdios, que forneceu o arcabouço para os tijolos da religião. Essa coisa que o homem diz ser necessária à sua sobrevivência – a religião –, foi exatamente o que estabeleceu a possibilidade da civilização. Da forma que a compreendemos.

Na Antiguidade, Idade-Média, Moderna e Contemporânea, a religião foi base da civilização, logo, viabilizou-a. No entanto, esses dogmas, doutrinas múltiplas e livros santos, começaram a ser profundamente questionados no presente século. Despercebidos, passamos por Darwin e, agora, revisitamos o gênio. A seleção natural dá-nos as respostas para os becos sombrios da existência – da ilusão religiosa –, e nos convida a bater à porta da realidade. Reconstrua-se aquilo que é a única possibilidade de existir, sem olhar o que somos, mas o que está diante de nós: a vida presente.

Não se trata mais da possibilidade de civilização, porque isso já se foi, mas da possibilidade de perpetuar a civilização, salvando-a. É o exercício da prioridade da razão sobre a fé cega e a cooperação entre os homens, sem os desvios cognitivos do além-mundo.

Como é possível a idolatria de um livro de lendas antigas, contando a história de um povo eleito, sendo o livro adulterado a posteriori para apontar uma segunda alternativa salvacionista, uma vez que a primeira fracassara? Precisávamos disso. O judaísmo virou um velho de calças mofadas e nada melhor do que as inovações, com a chancela dos profetas antigos.

Se tais Escrituras fossem deixadas por um ser onipotente, no mínimo, seria um ser atrapalhado, porque é isso o que nos aponta o método histórico-crítico. Um ser que se arrepende de coisas importantes que fez ou tem desvios comportamentais, reações desconcertantes, predileção pelo seu povo em nome da ágape ou furor santo, precisaria de ajuda médica... Que ser mais estranho, não? Mas isso não deixa dúvidas – à medida que os mitos desmoronam, caindo no desprezo do público, o álibi judeo-cristão pronuncia-se: “Não levemos a Bíblia tão ao pé da letra, o importante é a simbologia que está por trás das letras”... O galo cantou três vezes. Foi exatamente o que Richard Simon fez. Quando a “palavra” compromete, afastamo-nos dela para que a ameaça da crítica se dissipe. Ficamos mais soltos para os dogmas.

Fora da ordem cronológica, reuni alguns textos para comentá-los aleatoriamente, apenas com a preocupação de trazer à tona os desencontros bíblicos e suas escandalosas variações de desvios cognitivos. Por gostar tanto da expressão “desvios cognitivos” e por repeti-la tanto, peço desculpas, mas essa expressão é o que explica o presente livro! Para efeito dos comentários que seguem, priorizei a ordenação dos sentimentos filosóficos, da maneira como eles surgiram na minha vida. Na ordem gradual em que os questionamentos brotaram na minha mente, tornaram-se um incômodo, até que me pus a resolvê-los um por um.

A única explicação que tenho para a confusão arqueológica, histórica, geográfica, filológica e teológica da Bíblia, é a maneira como tentaram “enfiar” tudo ali, com a finalidade de canonizá-la, às pressas, para que não fosse mais questionada. Como se isso solucionasse o problema: dar um jeito para arrumar a casa de qualquer maneira antes da chegada da visita... Foi pior a emenda do que o soneto, a casa começou a cair há longo tempo.

Ao encontrarmos uma crença que nos baste, envolvente e simpática, firmamo-nos nela. Abraçamos a crença e a reforçamos com pilhas de argumentos, de heurísticas próprias, para conferir autoridade às mesmas. Intuição pura, achismo total. Juntamos uma porção de bobagens cognitivas para confirmar nossas crenças. Se tivermos honestidade de analisá-las, veremos que estão construídas em cima de baboseiras ou mentiras que engolimos. Ainda fingimos com nossos disfarces e mantemos os olhos semicerrados por medo da verdade... É o que somos. Deveríamos sentir vergonha, se não de nós mesmos, pelo menos daqueles que nos são caros.

Aos absurdos das Escrituras. Um caso que me intriga: se Deus é o pai de Jesus, que não veio do sêmen de José, por que traçar em Mateus e Lucas as genealogias de Jesus? Se Cristo não tem laço consanguíneo com José, como pode pertencer à raiz de Davi? De Maria nada, nenhuma genealogia. A genealogia de Mateus passa de forma retroativa pelo rei Davi até chegar a Abrahão! Lucas retroage mais ainda, chega a Adão... Acharam que fôssemos burros para engolir essa rapadura cognitiva açucarada e milenar? Óbvio que não. Apenas não imaginaram que essa ideia pudesse atravessar tantos séculos. Escreveram para as hordas antigas da Judeia. Não previram que a humanidade levaria essas histórias tão a sério. Pior que as lendas viraram uma coisa que pegou.

Mas que Adão é esse? Em que período homo ele se encaixa, para retroagir até aos australopithecus? Vamos fazer de conta que a Bíblia não tenha sido canonizada, que ninguém jamais tenha dito que ela é a “palavra de Deus”. Certo? Muito bem. Qual de vocês leitores, com honestidade, não acharia tudo aquilo uma imensa baboseira? É exatamente esse negócio de santo, essa mágica amedrontadora sagrada que faz com que essas coisas não tomem lugar em nossas mentes com nenhum tipo de questionamento. Bem estranho, não? Parece mais uma conivência acomodativa universal. Não se discute nada de “sagrado”... Exclusivamente por medo. Mas medo de que? De ser excomungado pela Igreja de Roma? De ser excluído da comunidade evangélica? Ou de ser laçado pelo Diabo? Ah... Acho que é isso. São as maldições e ameaças “igrejísticas”. Isso é coisa dos tempos da bruxaria. Ninguém é amaldiçoado, principalmente quando se busca a verdade!

Mitos não têm poder de amaldiçoar ninguém. Esses são os verdadeiros fantasmas: nossos medos. Quer dizer que vou perder o emprego, ou ficar doente, ou ser assaltado, por que não creio num nascimento virginal? Por amor de santa Radegunda, protetora dos ingênuos! Vamos acordar para o século em que vivemos, pois temos a responsabilidade social de adquirir um mínimo de cultura que nos diferencie do cristianismo medieval. Não estamos mais nessa época.

É melhor sairmos das genealogias de vez para outras coisas mais curiosas. Na época de Jesus, os cristãos começaram a esperar pelo reino prometido aqui na terra. Os contemporâneos de Cristo esperaram pela vinda do reino naquela época para nada. Quando Cristo teria subido aos céus, os discípulos aguardavam com toda a certeza do mundo a chegada iminente do reino. E nada. O apóstolo Paulo esperava o advento ainda em vida, mas acabou morrendo e nada de reino. Mas e agora? As boas novas da vinda do reino para aquela geração caíram no descrédito – e é natural, não acham?

Então, explicações foram criadas. Pedro teria dito que o tempo de Deus não é o mesmo do homem, ao lembrar que “para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia”... Saída genial para os antigos, mas fraca para hoje. As coisas mudaram e todos se calaram. Porém, não no fundo... As dúvidas ficaram e os líderes da Igreja, responsáveis pelas anestesias a serem aplicadas, vieram com novas interpretações. Abstraíram a visão imediatista do Reino. Inventaram uma história mais elástica: a ressurreição futura, com direito a alma, céu e inferno. Quer dizer, agora o reino era chegado individualmente com o fim da vida de cada devoto... Tudo, assim, foi recontextualizado.

Não era mais uma questão de duas épocas diferentes: uma antes da chegada do reino na Terra e a outra depois da chegada. Agora, o contexto é vertical: ficarmos aqui por enquanto, até morrermos e subirmos para algum outro lugar cheio de coisas gostosas. Um lugar com Deus. Logicamente, se o troço é vertical, o inferno fica lá em baixo. Embaixo de que? Do tapete? Dizem por aí que o inferno é aqui e no fundo sabemos disso.

O apocalipsismo legou-nos esse conceito conveniente de céu e inferno, pois a Torah não tratava dessas histórias e, digo mais, nem os textos cristãos mais primitivos! Essa doutrina de céu e inferno teve que ser encorpada como um mingau de maisena. Justo porque não “veio” qualquer reino no início do cristianismo, então, mais tarde, incorporaram aos discursos de Jesus o “meu reino não é desse mundo”... Cada século, assim, inventava uma vinda de Jesus, até que o próprio Miller subiu com a sua tropa nos telhados, em pleno século dezenove, para esperar um Jesus voador, que acabou alterando seu itinerário de voo para outro planeta...

É por isso que sempre me bato nas cognições desviantes, pois nunca percebemos quando nos assaltam e, então, buscamos significados em coisas que não existem. Acho pertinente repisar que nossos neurônios pedem coalizões na busca de irmãos que tenham uma linha de pensamento similar para fortalecer a já citada inferência paradigmal injuntiva. Quando queremos reforçar, a qualquer preço, as crenças que adquirimos, demonizamos as crenças dos nossos desiguais. Que loucos somos! A invenção do cristianismo se deu dessa forma: construindo o Cristo doutrinariamente, passo a passo, através de novas histórias registradas em seguida... Isso é lógico, significa a geração de novos dogmas! Para cada episódio do mito admitido, com cautela, meticulosidade e muita prudência, um novo tijolo na construção de um personagem eterno. Deu certo? Vamos em frente. Assim foi a briga inicial, que acabou nas mãos dos proto-ortodoxos. Eles ditavam a moda em Roma e eram os formadores de opinião, nova-iorquinos da Antiguidade.

Temos o dom, desde o nascimento, de desenvolver a capacidade de “ver” coisas e encontrar modelos significantes no ar. Porém, por que tudo precisa ter significado? Que estranho. Quem insiste em dizer que tudo tem significado? Só os que têm interesse na construção dos devaneios religiosos. Por que não sermos felizes sem significado? Drummond disse que “Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”... Por que Deus precisa inspirar alguém até para fazer um bom café?

No Evangelho de Marcos 9:1; 13:30, Cristo dá-nos a entender que o fim estaria próximo, com a iminente vinda do Filho do Homem para julgar a humanidade, quando seus discípulos ainda viviam. Então, nada de vinda do reino e os discípulos já estavam quase todos mortos sem terem contemplado a chegada do que fora anteriormente anunciado. Mas como nenhum dos discípulos que deram nome aos quatro evangelhos foram os seus autores de fato, os anônimos, escritores originais dos evangelhos, capricharam no último, o de João, mais ou menos em 95 d.C. Foram, desse jeito, obrigados a recontextualizar a teologia da vinda do reino, criando o que já mencionamos antes. Que decepção. O cristianismo, aliás, é uma coleção de decepções ocultas, abafadas, sufocadas, pois não temos coragem de admiti-las em público.

O silêncio de Deus! Isso aconteceu comigo durante a vida. Senti o silêncio, mas não queria admitir. Preferi a teimosia da . Não abri o coração para o próximo. Achei que pudesse ser visto como “homem de Deus”, mas não passava de um idiota, ignorando a riqueza de outros universos. Aterrorizava-me o fato de pensar que poderia estar equivocado! Admiti sem reflexão nem julgamento as histórias absurdas da religião e fingi que não via as mentiras que me falavam sobre a fé. Quando fé, na verdade, é o próprio ato de iludir a si mesmo... Se a fé não concorda com a realidade, achando que um ser sobrenatural qualquer vai alterar a ordem do universo em nosso benefício, das quatro hipóteses, uma: ou somos egoístas extremos, ou a fé é uma impostura, ou somos idiotas completos, ou este ser sobrenatural é um embromador.

No passado, interpretei os obstáculos da vida como provação de Deus... A cada decepção, considerava-me culpado pela falta de fé, já que parecia com punição. E a mente adoeceu... Isto é universal. Somos falsos de pedra! Temos medo de explodir num desabafo que nos faria muito bem. Libertar-nos-ia. Humanos finalmente, ainda que sempre demasiado humanos. Mas não, nunca dar o braço a torcer. Não damos o braço a torcer, por isso somos religiosos! Preferimos segurar a máscara, manter uma palavra na boca e outra no coração. Lógico, pois temos uma imagem perante a família, perante a comunidade que frequentamos e pelas mentiras que sustentamos no dia a dia. Pelo compromisso com o palco em que subimos para representar nosso triste papel religioso. Fingi tanto, que cansei. Por isso, fiquei feliz e escapei da escuridão para ser um “desigrejado” cheio de alegria. Aí, joguei as correntes no lixo.

O Evangelho de João desfaz o dualismo horizontal, temporal, que situava a chegada do reino aqui na terra, conforme o cristianismo primevo, para propor um dualismo vertical, espacial, ao reforçar um lugar acima e outro abaixo, com nova proposta, de todo individualizada. Agora, no contexto reformulado, o reino certamente vai chegar para aqueles que foram premiados com o céu ou, infelizmente, jamais chegará para aqueles que foram selados para o inferno.

Infelizmente, nenhum dos discípulos escreveu nada. Foi tudo pseudoepigrafado[1]. Eram escritores anônimos, que “precisaram” usar os nomes dos apóstolos em busca de credibilidade. Isso desaponta profundamente os crédulos, entretanto, os livros da Bíblia são pseudoepigráficos, obras atribuídas a quem não as escreveu. O problema é que se torna difícil que um crente abra o entendimento para tal coisa, pois suas crenças não se baseiam em evidências, baseiam-se numa profunda teimosia em acreditar em fantasias, resistindo a qualquer tipo de prova histórica. Ainda se orgulham em dizer que as coisas adquiridas pela fé jamais serão destruídas pela razão... Que espetáculo de pobreza intelectual!

É por isso que não me canso de afirmar o porquê do meu abandono da fé religiosa que, para mim, representa um problema cultural. Enquanto vivi por anos a fio, envolvido com igrejas, aceitei a estupidez e falta de coerência dos irmãozinhos em nome da humildade. Mas, se de fato existisse um deus conforme os moldes pregados pela dogmática, ele seria o pai dos incoerentes, responsável pela proliferação da miopia cognitiva no mundo. Cheguei, então, a um ponto de não mais suportar tanta besteira e, para não magoar as pessoas por causa das minhas convicções, percebi que poderia ajudá-las muito mais deixando a estrutura retrógrada da Igreja. Embora essa mesma Igreja sustente um exército de artrópodes venais e fantoches fideístas, embroma os que têm alguma sede de cultura, mas a cultura de fundo de quintal é mais do que suficiente para os fiéis.

A liderança sacripanta prega ao povo detritos de ciência com um pouco de sociologia capenga, uma psicologia de sexta classe, física nem é preciso, pois não sabem o que é isso, pensam que é uma forma de ginástica... Esses líderes dão umas doses de literatura de comadre e poesia que contenha as palavras “flor e mãe”, alguns toques de otimismo – o que já basta. Geralmente, são pastores dolosos, vistos pelo povo humilde como sumidades intelectuais e donos de palavras irrefutáveis. Sobretudo, quando se reafirmam “imperfeitos como qualquer um e que o Senhor realmente é tudo em nós”... Aí sim, vem o delírio da turma de aprendizes, mas continuam a venerar o pastor, ou a um liderzelho qualquer. O povo gosta – precisa de pão e circo. Os falsos profetas, torpes que são, simulam submissão integral a Deus, mas bajulam os contribuintes que amam, e sugam as ovelhas, que desprezam. É preciso cabresto, “carinho” bem dosado, chibata, amor de púlpito e extorsão. Em nome de Deus e do absurdo.

Lembro-me da compreensão dos antigos sobre a luz. Eles achavam que a luz era difusa, não vinha do sol – era impregnada como algo derramado que se espalhava na atmosfera. Quem escreveu o Gênesis também partilhava desse princípio, pois na sua narrativa, o sol fora criado quatro dias depois da luz... Como aquelas bestas iniciais poderiam deixar de entender a existência de uma manhã e uma tarde sem o sol? O que é a fé senão querer descobrir o que é a verdade? Fica difícil, mesmo para um infante, que um ser superior, hipoteticamente, tenha-nos provido de inteligência, razão e bom senso, e nos proíba de usá-lo.

Ainda falando em luminescência, já que tocamos na “criação” do sol depois de quatro dias, quando existia uma luz difusa sobre a terra, faço um comentário particular sobre os astros: a estrela de Belém. Os magos do Oriente teriam se guiado supostamente por uma estrela até a gruta onde Jesus nascera. Imaginemos a distância de uma estrela para a Terra – milhões de anos-luz. Como esse negócio vai pairar sobre Jerusalém ou, mesmo, sobre uma gruta? Estranho. Que angulação dúbia é essa? Uma estrela que os magos acompanham e que tem a velocidade de um camelo na areia? Uma estrela jamais poderia “pairar” sobre uma gruta, a menos que descesse do céu e ficasse a alguns metros do seu alvo. Uma estrela pode pairar sobre um hemisfério inteiro até onde um ângulo estabelecido pela Física permitir... Chega de astrologia bíblica. Isso é mais uma prova de que toda essa linguagem só poderia ser usada por gente fosca da Antiguidade.

Um conjunto de processos cognitivos convence os crédulos sobre a estrela, fortalecendo a crença da orientação divina para os magos, gerando o pior sentimento: a confiança emocional, que é o desastre consumado do desvio cognitivo. Esses sistemas de crença são tão poderosos que penetram em nosso sensorial e isso pode durar a vida inteira, a menos que haja a fortuna de um momento de reflexão profunda, libertando-nos.

A Bíblia contém milhares de mentiras, pois foi escrita pelos homens e eles mentem por força da sua própria natureza. O homem santo, perfeito, imagem e semelhança de Deus é um modelo que jamais existiu. É uma construção da própria religião – um blefe. O homem autêntico, natural, é apenas um animal que conserva a racionalidade num plano muito restrito, por tempos reduzidos, sempre com prioridade instintiva à sua baixa origem. Uma alimária disfarçada e contida pelo processo social, monstro fazedor de livros mentirosos para obter vantagens.

Como disse anteriormente, passei minha vida a acreditar na ilusão religiosa. Talvez por ter seguido uma carreira ligada às artes visuais, isso tenha contribuído com a possibilidade do sonho. Acreditei que essas coisas poderiam conter fundamentos sólidos. Acontece que é muito comum aos artistas de todas as escolas, que navegam pelos mares da fantasia, atolarem-se na lama da ilusão religiosa, pois a própria natureza da arte, da criação, margeia esses mares. A própria religião é um sonho multicolorido, que oferece esperanças fofas e os sonhadores são as vítimas dos desvios das fés oferecidas pelo caminho.

O clero se abriga na teia, manso, esperando as vítimas do voo ingênuo. Assim, caí em várias teias sedutoras, mas consegui sair de todas elas. Meu voo hoje não é de um mosquito indefeso – é de um falcão raptor! O falcão enxerga ao longe, tem uma direção: um voo limpo e fatal pela sua prole. Já o clero é como a aranha, fica na teia, na sua casinha que tem a cúpula com cruz no topo. Ali, dogmatiza e suga as vítimas incautas...


[1] “Escrito sob um nome falso”.


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