DOS DOGMAS, CONTRADIÇÕES E FRAUDES I
Por que algo é declarado santo e nós temos
que aceitar o que nos impingem? Por que o Rig-Veda, o Shvetashvatara Upanixade,
o Bhagavad Gita, o Corão, A Torah e o Novo Testamento são considerados livros
santos que não podem ser refutados? Eles são diferentes, refletem realidades
distintas e defendem pontos de vista absolutamente díspares... Qual deles é o
verdadeiro? Por que, então, temos que aceitá-los? Porque são convencionados
santos.
Mas de onde partem as convenções senão dos
homens, que se organizam socialmente e estabelecem as normas a serem seguidas?
A melhor maneira para compreendermos a organização social é lançar um olhar,
ainda que breve, sobre a história. O sagrado, o santo, é uma ideia dos
primórdios, que forneceu o arcabouço para os tijolos da religião. Essa coisa
que o homem diz ser necessária à sua sobrevivência – a religião –, foi exatamente
o que estabeleceu a possibilidade da civilização. Da forma que a compreendemos.
Na Antiguidade, Idade-Média, Moderna e
Contemporânea, a religião foi base da civilização, logo, viabilizou-a. No entanto,
esses dogmas, doutrinas múltiplas e livros santos, começaram a ser profundamente
questionados no presente século. Despercebidos, passamos por Darwin e, agora,
revisitamos o gênio. A seleção natural dá-nos as respostas para os becos
sombrios da existência – da ilusão religiosa –, e nos convida a bater à porta
da realidade. Reconstrua-se aquilo que é a única possibilidade de existir, sem
olhar o que somos, mas o que está diante de nós: a vida presente.
Não se trata mais da possibilidade de
civilização, porque isso já se foi, mas da possibilidade de perpetuar a civilização,
salvando-a. É o exercício da prioridade da razão sobre a fé cega e a cooperação
entre os homens, sem os desvios cognitivos do além-mundo.
Como é possível a idolatria de um livro de
lendas antigas, contando a história de um povo eleito, sendo o livro adulterado
a posteriori para apontar uma segunda
alternativa salvacionista, uma vez que a primeira fracassara? Precisávamos
disso. O judaísmo virou um velho de calças mofadas e nada melhor do que as inovações,
com a chancela dos profetas antigos.
Se tais Escrituras fossem deixadas por um
ser onipotente, no mínimo, seria um ser atrapalhado, porque é isso o que nos
aponta o método histórico-crítico. Um ser que se arrepende de coisas
importantes que fez ou tem desvios comportamentais, reações desconcertantes, predileção
pelo seu povo em nome da ágape ou furor santo, precisaria de ajuda médica...
Que ser mais estranho, não? Mas isso não deixa dúvidas – à medida que os mitos
desmoronam, caindo no desprezo do público, o álibi judeo-cristão pronuncia-se:
“Não levemos a Bíblia tão ao pé da letra, o importante é a simbologia que está
por trás das letras”... O galo cantou três vezes. Foi exatamente o que Richard
Simon fez. Quando a “palavra” compromete, afastamo-nos dela para que a ameaça
da crítica se dissipe. Ficamos mais soltos para os dogmas.
Fora da ordem cronológica, reuni alguns
textos para comentá-los aleatoriamente, apenas com a preocupação de trazer à
tona os desencontros bíblicos e suas escandalosas variações de desvios
cognitivos. Por gostar tanto da expressão “desvios cognitivos” e por repeti-la
tanto, peço desculpas, mas essa expressão é o que explica o presente livro! Para
efeito dos comentários que seguem, priorizei a ordenação dos sentimentos filosóficos,
da maneira como eles surgiram na minha vida. Na ordem gradual em que os
questionamentos brotaram na minha mente, tornaram-se um incômodo, até que me
pus a resolvê-los um por um.
A única explicação que tenho para a
confusão arqueológica, histórica, geográfica, filológica e teológica da Bíblia,
é a maneira como tentaram “enfiar” tudo ali, com a finalidade de canonizá-la, às
pressas, para que não fosse mais questionada. Como se isso solucionasse o
problema: dar um jeito para arrumar a casa de qualquer maneira antes da chegada
da visita... Foi pior a emenda do que o soneto, a casa começou a cair há longo tempo.
Ao encontrarmos uma crença que nos baste, envolvente
e simpática, firmamo-nos nela. Abraçamos a crença e a reforçamos com pilhas de
argumentos, de heurísticas próprias, para conferir autoridade às mesmas.
Intuição pura, achismo total. Juntamos uma porção de bobagens cognitivas para
confirmar nossas crenças. Se tivermos honestidade de analisá-las, veremos que
estão construídas em cima de baboseiras ou mentiras que engolimos. Ainda
fingimos com nossos disfarces e mantemos os olhos semicerrados por medo da
verdade... É o que somos. Deveríamos sentir vergonha, se não de nós mesmos,
pelo menos daqueles que nos são caros.
Aos absurdos das Escrituras. Um caso que me
intriga: se Deus é o pai de Jesus, que não veio do sêmen de José, por que
traçar em Mateus e Lucas as genealogias de Jesus? Se Cristo não tem laço
consanguíneo com José, como pode pertencer à raiz de Davi? De Maria nada,
nenhuma genealogia. A genealogia de Mateus passa de forma retroativa pelo rei
Davi até chegar a Abrahão! Lucas retroage mais ainda, chega a Adão... Acharam
que fôssemos burros para engolir essa rapadura cognitiva açucarada e milenar?
Óbvio que não. Apenas não imaginaram que essa ideia pudesse atravessar tantos
séculos. Escreveram para as hordas antigas da Judeia. Não previram que a
humanidade levaria essas histórias tão a sério. Pior que as lendas viraram uma
coisa que pegou.
Mas que Adão é esse? Em que período homo ele se encaixa, para retroagir até
aos australopithecus? Vamos fazer de
conta que a Bíblia não tenha sido canonizada, que ninguém jamais tenha dito que
ela é a “palavra de Deus”. Certo? Muito bem. Qual de vocês leitores, com
honestidade, não acharia tudo aquilo uma imensa baboseira? É exatamente esse
negócio de santo, essa mágica amedrontadora sagrada que faz com que essas
coisas não tomem lugar em nossas mentes com nenhum tipo de questionamento. Bem
estranho, não? Parece mais uma conivência acomodativa
universal. Não se discute nada de “sagrado”... Exclusivamente por medo. Mas medo
de que? De ser excomungado pela Igreja de Roma? De ser excluído da comunidade
evangélica? Ou de ser laçado pelo Diabo? Ah... Acho que é isso. São as
maldições e ameaças “igrejísticas”. Isso é coisa dos tempos da bruxaria.
Ninguém é amaldiçoado, principalmente quando se busca a verdade!
Mitos não têm poder de amaldiçoar ninguém. Esses
são os verdadeiros fantasmas: nossos medos. Quer dizer que vou perder o
emprego, ou ficar doente, ou ser assaltado, por que não creio num nascimento
virginal? Por amor de santa Radegunda, protetora dos ingênuos! Vamos acordar
para o século em que vivemos, pois temos a responsabilidade social de adquirir
um mínimo de cultura que nos diferencie do cristianismo medieval. Não estamos
mais nessa época.
É melhor sairmos das genealogias de vez para
outras coisas mais curiosas. Na época de Jesus, os cristãos começaram a esperar
pelo reino prometido aqui na terra. Os contemporâneos de Cristo esperaram pela
vinda do reino naquela época para nada. Quando Cristo teria subido aos céus, os
discípulos aguardavam com toda a certeza do mundo a chegada iminente do reino.
E nada. O apóstolo Paulo esperava o advento ainda em vida, mas acabou morrendo
e nada de reino. Mas e agora? As boas novas da vinda do reino para aquela
geração caíram no descrédito – e é natural, não acham?
Então, explicações foram criadas. Pedro
teria dito que o tempo de Deus não é o mesmo do homem, ao lembrar que “para
Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia”... Saída genial para os
antigos, mas fraca para hoje. As coisas mudaram e todos se calaram. Porém, não
no fundo... As dúvidas ficaram e os líderes da Igreja, responsáveis pelas
anestesias a serem aplicadas, vieram com novas interpretações. Abstraíram a
visão imediatista do Reino. Inventaram uma história mais elástica: a
ressurreição futura, com direito a alma, céu e inferno. Quer dizer, agora o
reino era chegado individualmente com o fim da vida de cada devoto... Tudo,
assim, foi recontextualizado.
Não era mais uma questão de duas épocas
diferentes: uma antes da chegada do reino na Terra e a outra depois da chegada.
Agora, o contexto é vertical: ficarmos aqui por enquanto, até morrermos e subirmos
para algum outro lugar cheio de coisas gostosas. Um lugar com Deus.
Logicamente, se o troço é vertical, o inferno fica lá em baixo. Embaixo de que?
Do tapete? Dizem por aí que o inferno é aqui e no fundo sabemos disso.
O apocalipsismo legou-nos esse conceito
conveniente de céu e inferno, pois a Torah não tratava dessas histórias e, digo
mais, nem os textos cristãos mais primitivos! Essa doutrina de céu e inferno
teve que ser encorpada como um mingau de maisena. Justo porque não “veio”
qualquer reino no início do cristianismo, então, mais tarde, incorporaram aos
discursos de Jesus o “meu reino não é desse mundo”... Cada século, assim,
inventava uma vinda de Jesus, até que o próprio Miller subiu com a sua tropa
nos telhados, em pleno século dezenove, para esperar um Jesus voador, que acabou
alterando seu itinerário de voo para outro planeta...
É por isso que sempre me bato nas cognições
desviantes, pois nunca percebemos quando nos assaltam e, então, buscamos significados
em coisas que não existem. Acho pertinente repisar que nossos neurônios pedem
coalizões na busca de irmãos que
tenham uma linha de pensamento similar para fortalecer a já citada inferência paradigmal injuntiva. Quando
queremos reforçar, a qualquer preço, as crenças que adquirimos, demonizamos as crenças
dos nossos desiguais. Que loucos somos! A invenção do cristianismo se deu dessa
forma: construindo o Cristo doutrinariamente, passo a passo, através de novas
histórias registradas em seguida... Isso é lógico, significa a geração de novos
dogmas! Para cada episódio do mito admitido, com cautela, meticulosidade e
muita prudência, um novo tijolo na construção de um personagem eterno. Deu
certo? Vamos em frente. Assim foi a briga inicial, que acabou nas mãos dos
proto-ortodoxos. Eles ditavam a moda em Roma e eram os formadores de opinião, nova-iorquinos
da Antiguidade.
Temos o dom, desde o nascimento, de desenvolver
a capacidade de “ver” coisas e encontrar modelos significantes no ar. Porém,
por que tudo precisa ter significado? Que estranho. Quem insiste em dizer que
tudo tem significado? Só os que têm interesse na construção dos devaneios
religiosos. Por que não sermos felizes sem significado? Drummond disse que “Ser
feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”... Por que Deus
precisa inspirar alguém até para fazer um bom café?
No Evangelho de Marcos 9:1; 13:30, Cristo
dá-nos a entender que o fim estaria próximo, com a iminente vinda do Filho do Homem para julgar a humanidade,
quando seus discípulos ainda viviam. Então, nada de vinda do reino e os discípulos
já estavam quase todos mortos sem terem contemplado a chegada do que fora anteriormente
anunciado. Mas como nenhum dos discípulos que deram nome aos quatro evangelhos
foram os seus autores de fato, os anônimos, escritores originais dos evangelhos,
capricharam no último, o de João, mais ou menos em 95 d.C. Foram, desse jeito,
obrigados a recontextualizar a teologia da vinda do reino, criando o que já
mencionamos antes. Que decepção. O cristianismo, aliás, é uma coleção de
decepções ocultas, abafadas, sufocadas, pois não temos coragem de admiti-las em
público.
O silêncio de Deus! Isso aconteceu comigo
durante a vida. Senti o silêncio, mas não queria admitir. Preferi a teimosia da
fé. Não abri o coração para o próximo.
Achei que pudesse ser visto como “homem de Deus”, mas não passava de um idiota,
ignorando a riqueza de outros universos. Aterrorizava-me o fato de pensar que
poderia estar equivocado! Admiti sem reflexão nem julgamento as histórias
absurdas da religião e fingi que não via as mentiras que me falavam sobre a fé.
Quando fé, na verdade, é o próprio ato de iludir a si mesmo... Se a fé não
concorda com a realidade, achando que um ser sobrenatural qualquer vai alterar
a ordem do universo em nosso benefício, das quatro hipóteses, uma: ou somos
egoístas extremos, ou a fé é uma impostura, ou somos idiotas completos, ou este
ser sobrenatural é um embromador.
No passado, interpretei os obstáculos da
vida como provação de Deus... A cada decepção, considerava-me culpado pela
falta de fé, já que parecia com punição. E a mente adoeceu... Isto é universal.
Somos falsos de pedra! Temos medo de explodir num desabafo que nos faria muito
bem. Libertar-nos-ia. Humanos finalmente, ainda que sempre demasiado humanos.
Mas não, nunca dar o braço a torcer. Não
damos o braço a torcer, por isso somos religiosos! Preferimos segurar a
máscara, manter uma palavra na boca e outra no coração. Lógico, pois temos uma
imagem perante a família, perante a comunidade que frequentamos e pelas
mentiras que sustentamos no dia a dia. Pelo compromisso com o palco em que
subimos para representar nosso triste papel religioso. Fingi tanto, que cansei.
Por isso, fiquei feliz e escapei da escuridão para ser um “desigrejado” cheio
de alegria. Aí, joguei as correntes no lixo.
O
Evangelho de João desfaz o dualismo horizontal, temporal, que situava a chegada
do reino aqui na terra, conforme o cristianismo primevo, para propor um dualismo
vertical, espacial, ao reforçar um lugar acima e outro abaixo, com nova
proposta, de todo individualizada. Agora, no contexto reformulado, o reino certamente
vai chegar para aqueles que foram premiados com o céu ou, infelizmente, jamais
chegará para aqueles que foram selados para o inferno.
Infelizmente, nenhum dos discípulos
escreveu nada. Foi tudo pseudoepigrafado[1].
Eram escritores anônimos, que “precisaram” usar os nomes dos apóstolos em busca
de credibilidade. Isso desaponta profundamente os crédulos, entretanto, os
livros da Bíblia são pseudoepigráficos, obras atribuídas a quem não as
escreveu. O problema é que se torna difícil que um crente abra o entendimento
para tal coisa, pois suas crenças não se baseiam em evidências, baseiam-se numa
profunda teimosia em acreditar em fantasias, resistindo a qualquer tipo de
prova histórica. Ainda se orgulham em dizer que as coisas adquiridas pela fé
jamais serão destruídas pela razão... Que espetáculo de pobreza intelectual!
É por isso que não me canso de afirmar o
porquê do meu abandono da fé religiosa que, para mim, representa um problema
cultural. Enquanto vivi por anos a fio, envolvido com igrejas, aceitei a
estupidez e falta de coerência dos irmãozinhos em nome da humildade. Mas, se de
fato existisse um deus conforme os moldes pregados pela dogmática, ele seria o
pai dos incoerentes, responsável pela proliferação da miopia cognitiva no mundo. Cheguei, então, a um ponto de não mais
suportar tanta besteira e, para não magoar as pessoas por causa das minhas
convicções, percebi que poderia ajudá-las muito mais deixando a estrutura
retrógrada da Igreja. Embora essa mesma Igreja sustente um exército de
artrópodes venais e fantoches fideístas, embroma os que têm alguma sede de
cultura, mas a cultura de fundo de quintal é mais do que suficiente para os
fiéis.
A liderança sacripanta prega ao povo
detritos de ciência com um pouco de sociologia capenga, uma psicologia de sexta
classe, física nem é preciso, pois não sabem o que é isso, pensam que é uma
forma de ginástica... Esses líderes dão umas doses de literatura de comadre e
poesia que contenha as palavras “flor e mãe”, alguns toques de otimismo – o que
já basta. Geralmente, são pastores dolosos, vistos pelo povo humilde como
sumidades intelectuais e donos de palavras irrefutáveis. Sobretudo, quando se
reafirmam “imperfeitos como qualquer um e que o Senhor realmente é tudo em nós”...
Aí sim, vem o delírio da turma de aprendizes, mas continuam a venerar o pastor,
ou a um liderzelho qualquer. O povo
gosta – precisa de pão e circo. Os falsos profetas, torpes que são, simulam submissão
integral a Deus, mas bajulam os contribuintes que amam, e sugam as ovelhas, que
desprezam. É preciso cabresto, “carinho” bem dosado, chibata, amor de púlpito e
extorsão. Em nome de Deus e do absurdo.
Lembro-me da compreensão dos antigos sobre
a luz. Eles achavam que a luz era difusa, não vinha do sol – era impregnada
como algo derramado que se espalhava na atmosfera. Quem escreveu o Gênesis
também partilhava desse princípio, pois na sua narrativa, o sol fora criado
quatro dias depois da luz... Como aquelas bestas iniciais poderiam deixar de
entender a existência de uma manhã e uma tarde sem o sol? O que é a fé senão
querer descobrir o que é a verdade? Fica difícil, mesmo para um infante, que um
ser superior, hipoteticamente, tenha-nos provido de inteligência, razão e bom
senso, e nos proíba de usá-lo.
Ainda falando em luminescência, já que
tocamos na “criação” do sol depois de quatro dias, quando existia uma luz difusa sobre a terra, faço um comentário particular
sobre os astros: a estrela de Belém. Os magos do Oriente teriam se guiado
supostamente por uma estrela até a gruta onde Jesus nascera. Imaginemos a
distância de uma estrela para a Terra – milhões de anos-luz. Como esse negócio
vai pairar sobre Jerusalém ou, mesmo, sobre uma gruta? Estranho. Que angulação dúbia
é essa? Uma estrela que os magos acompanham e que tem a velocidade de um camelo
na areia? Uma estrela jamais poderia “pairar” sobre uma gruta, a menos que descesse
do céu e ficasse a alguns metros do seu alvo. Uma estrela pode pairar sobre um
hemisfério inteiro até onde um ângulo estabelecido pela Física permitir...
Chega de astrologia bíblica. Isso é mais uma prova de que toda essa linguagem
só poderia ser usada por gente fosca da Antiguidade.
Um conjunto de processos cognitivos
convence os crédulos sobre a estrela, fortalecendo a crença da orientação
divina para os magos, gerando o pior sentimento: a confiança emocional, que é o
desastre consumado do desvio cognitivo. Esses sistemas de crença são tão
poderosos que penetram em nosso sensorial e isso pode durar a vida inteira, a
menos que haja a fortuna de um momento de reflexão profunda, libertando-nos.
A Bíblia contém milhares de mentiras, pois
foi escrita pelos homens e eles mentem por força da sua própria natureza. O
homem santo, perfeito, imagem e semelhança de Deus é um modelo que jamais
existiu. É uma construção da própria religião – um blefe. O homem autêntico,
natural, é apenas um animal que conserva a racionalidade num plano muito
restrito, por tempos reduzidos, sempre com prioridade instintiva à sua baixa
origem. Uma alimária disfarçada e contida pelo processo social, monstro fazedor
de livros mentirosos para obter vantagens.
Como disse anteriormente, passei minha vida
a acreditar na ilusão religiosa. Talvez por ter seguido uma carreira ligada às
artes visuais, isso tenha contribuído com a possibilidade do sonho. Acreditei
que essas coisas poderiam conter fundamentos sólidos. Acontece que é muito
comum aos artistas de todas as escolas, que navegam pelos mares da fantasia,
atolarem-se na lama da ilusão religiosa, pois a própria natureza da arte, da
criação, margeia esses mares. A própria religião é um sonho multicolorido, que
oferece esperanças fofas e os sonhadores são as vítimas dos desvios das fés
oferecidas pelo caminho.
O clero se abriga na teia, manso, esperando
as vítimas do voo ingênuo. Assim, caí em várias teias sedutoras, mas consegui
sair de todas elas. Meu voo hoje não é de um mosquito indefeso – é de um falcão
raptor! O falcão enxerga ao longe, tem uma direção: um voo limpo e fatal pela
sua prole. Já o clero é como a aranha, fica na teia, na sua casinha que tem a
cúpula com cruz no topo. Ali, dogmatiza e suga as vítimas incautas...
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