UMA VISÃO DO FUTURO
O sintoma agudo do desvio cognitivo não é
como o nosso cérebro constrói as crenças, mas como ele as transforma em verdades. Falo aqui do risco da
inferência paradigmal injuntiva – a construção de padrões seguidos do ato de
conferir significado aos padrões absorvidos pela mente. Pelo fato de
cultivarmos nossas verdades empiricamente (somos cuidadosos com isso), em geral
ocupamos toda a existência nessa tarefa de delimitar fronteiras cognitivas e,
então, sucumbimos à equivocidade dos conceitos mal formulados. Prosseguimos no
erro.
O cérebro “quer” que nossas mentes adotem
uma crença qualquer para que a confiança emocional em algo se estabeleça
positivamente. Só um esforço imenso de reeducação neuronal pode preparar o
indivíduo para enfrentar os ataques dos desvios cognitivos. Por exemplo, a
ciência não reconhece um deus fora do espaço-tempo (tampouco dentro dele),
porque ela só trabalha com elementos do nosso mundo de perceptos. A ciência
atua no mundo natural, não no sobrenatural. É nisso que temos de bater e
rebater, plantar na mente, criar uma segunda natureza que nos ajude no apelo à
razão. Acostumarmo-nos a examinar tudo com abordagem científica, enfim, criar
um hábito de exclusão de desvios da cognição para não cairmos na rede do
passado.
A religião se constitui como fato social e
existe para fortalecer o ideal comunitário, o espírito de rebanho, fixando
normas morais para os indivíduos. Uma nova visão, entretanto, começa a nos
acenar com postulados perturbadores: a moral se desvincula de Deus e deixa de
ser um problema teológico. Fala-se nos dias presentes em ateísmo pós-cristão.
Uma forma de higienizar a antiga mácula do ateu imoral, perigoso, imundo e sem
ética. Seria a supressão das práticas religiosas com a adoção do modelo de
moral cristã? Se os religiosos podem lançar mão dos seus familiares valores
cristãos, por que não os céticos abraçarem a essência da moral cristã? Vamos
por aí? O mais importante é a moral em si, de interpretação transcendente ou
não e o resultado final é o que conta. O ateísmo pós-cristão talvez seja mais
pragmático, pois não passa pelo crivo do dogma. O cumprimento de uma ética sem
punição do além, mesmo porque a aplicação da norma moral é desse mundo, não é
extensiva ao além... A exclusão da sanção divina no lugar da adoção da
responsabilidade social, junto com a conversão ao esvaziamento do ego. Não aquela coisa tautológica do
passado que virou pregação corriqueira dos epíscopos já idos. Ninguém vai
anular seu próprio ego de forma voluntária, pois ele é uno e imanente. Como,
então, solucionar essa imbricação de conceitos? Com a atitude de adestramento
neuronal voluntário para minorar os desvios da cognição, visando à
responsabilidade social e o fim da incultura religiosa. Buscando a recuperação
do espírito de comunidade perdido no hoje, não para celebrar um tipo de ágape
moderninho, mas para participar de um lanche social, tendo por objetivo a sobrevivência
da espécie. Aqui.
Enquanto o cristianismo estabelece nesse
mundo o valor do pedágio para a eternidade e situa suas perspectivas para o
além-mundo, o ateísmo pós-cristão anuncia que os valores morais não são
propriedade exclusiva da religião. Antes, precisávamos dos seus modelos, até
descobrirmos que sua lógica é defeituosa. É para ser assim, porque a dogmática
foi sempre elaborada e impingida sub-repticiamente. Agora, contemplamos o
declínio da fé, e o ceticismo pós-cristão se empenha na produção de
significados sem superstição. Não se trata de um debate acrimonioso em torno da
religião, mas uma consideração sobre o declínio da fé.
Na verdade, essa ideia de ateísmo
pós-cristão já encontra seus esboços no início do século dezenove, na obra de
Feuerbach, Auguste Comte, Nietzsche, Walter Benjamin e, mais recentemente, em
Michel Onfray. Nietzsche pretendia infundir os ideais seculares como a arte, a
filosofia, a música, com seus valores próprios, no lugar da moral cristã
desgastada pela incultura. Não teve, porém, sucesso no seu tempo, pois era um
individualista quixotesco. Não contou com a empresa,
com a força da instituição para divulgar suas ideias, porque a Igreja detém o status corporativo que transforma as
necessidades dos fiéis em grandes montanhas de dinheiro. Temos aí a vantagem
indestrutível da instituição, a utilização de amuletos que eternizam seus dogmas:
a cruz por exemplo. Com isso, tudo é branding
– o logotipo do Vaticano existe desde a Idade Média –, os designers da cúria se incumbem do trabalho de atualização e os
sacerdotes se empenham na compensadora tarefa de saciar as necessidades da
alma. Atente-se para o adestramento do tom de voz melífluo dos padres às
autoritárias pantomimas dos pastores – a instituição protege as emoções que
precisamos cultivar!
O momento que vivenciamos no mundo é
marcado por uma ascensão devastadora do capital e pela ditadura dos mercados. Também
a volta da ideia marxista com outras roupas, pois caem os sistemas, mas as
ideias persistem. Isso é sintoma de ceticismo. Na concepção de Feuerbach, as
interações humanas, outrora planejadas por
Deus, deveriam ser administradas pelo “homem do amor” e não mais pelo Eterno...
Segundo o filósofo, após o abandono da religião e da Bíblia, o homem teria que
se fixar no amor, porque, segundo ele, “sem amor não há verdade e só tem valor
quem tem valor”. Ora, esse conceito existiu há muito tempo quando Deus foi
substituído pelo homem do amor. Hoje,
na hipermodernidade, o conceito desse homem do amor deu lugar à deificação do
capital que nos infelicita e oprime – o capital como religião. O homem do amor
morreu na praia! Veio o homo ludens,
não mais o de Feuerbach, mas o completamente vazio de amor, para derramar sobre
o mundo o sentimento tanatofílico.
Ainda que impregnada da forte carga de
ateísmo para a época, a filosofia de Ludwig Feuerbach apresenta nuance
diferente: o real para ele é pleno do que é sensível, pois só o que é sensível
nos mostra o objeto no seu sentido verdadeiro e único – a origem da possibilidade
do amor.
O ateísmo pós-cristão, blasonado pelos
filósofos de hoje, também é conhecido como ateísmo pós-moderno. Mais certo
seria o termo ateísmo pós-moderno, porque
todo ateísmo cristão é pós-cristão, embora tudo continue apenas como um rótulo
da moda. Roupinha moderna derivada do traje filosófico impecável de Feuerbach.
Acontece que na descoberta do poço sem fundo da existência, uma vez privado do
mapa da religião, o homem começa a dar voltas no deserto. Quando sua
compreensão não alcança o significado de apenas-vida-biológica,
o tal do borrão no nada, de saber que sua vida é um acontecimento biológico
banal, ou quando se instala o medo, esse mesmo homem retroage, querendo ir para
o céu a todo custo. Se não, resta abraçar esse tipo de ceticismo sem retorno, indo
de encontro a um possível hedonismo ético. O que mais? Por isso, tenho minhas
dúvidas sobre a aplicação dos valores da religião, da moral cristã sem o
Cristo.
Será que levaríamos a termo esse intento de
tomar emprestada a moral cristã de maneira profunda, ou seria um verniz
comportamental apenas para inglês ver? Qual seria o regulador da nossa vida, ao
ser Deus excluído do programa por completo? Compromissos com o ego e propósitos
pessoais se quebram fácil e nos revelam que não somos como imaginávamos. A
moral, porém, não pode ser teológica per
si.
Na catedral, um homem religioso entra e se
prepara para a contemplação. Cheiro típico, emoção abafada. Silêncio, um monge
à distância com a tonsura aparente às vezes. Lugar onde os mais abastados
deixam somas gordas, talvez para apagar o passado de como e quando as somas
foram obtidas. Obras de arte sólidas que só existem em museus, influxo
catártico, pois em museus ninguém ajoelha ou fecha os olhos. Ali é para tal, e
os populares precisam disso. Sentimos que a imagem salva, já que naquele ar faz
o papel redencionista. Historinhas de santos fazem parte da pedagogia aplicada
– não exigem que os fiéis reflitam –, apenas acompanhem as narrativas visuais
dos mestres da Old school,
porque seduzem até os mais humildes. As imagens produzem compaixão e nos
obrigam a caminhar com os santos mártires em devoção até descobrirmos como tudo
foi inventado... Mas aí é tarde, pois se não deixamos cair uma lágrima no piso
do santuário, pelo menos engolimos a
bola da vez... O papel didático da arte sacra e seu apelo emocional já foram
demonstrados. Olhamos para o lado e o fiel que está mais próximo oferece a
sensação de crença profunda. Vez por outra, ele dá uma olhada de canto do olho
para sondar a área e reforçar a fé. Tudo é sensação de bondade eterna e
mistério. As colunas estão ali, lembrando-nos da eternidade do processo.
O que observo no didatismo da Igreja de Roma é o domínio da eficácia emocional
através dos padrões clássicos. É só pendurar um Picasso ou um Giorgio de
Chirico na parede e a devoção vai embora... Parece que o tempo pesa na empresa
e todo negócio tem seu lado psicológico para dar certo. Mas o espetáculo é
bonito e comove, basta assistir a missa do galo: a quantidade de mármore já
esmaga o nosso ego de prazer estético.
Na pintura, os clichês são o segredo:
deserto, pescarias, óbolo da viúva, mar aberto, ceias, milagres, anjos, tudo,
enfim, resolvido com poucas cores, explorando o chiaroscuro caravagesco e a emoção está garantida. Nas esculturas,
basta a concentração nas expressões de espanto, compaixão, ira e, de maneira
especial, na expressão das mãos para que o mármore de novo convença os fiéis.
Enfim, na arquitetura, a separação do mundo: o gótico como tom maior – grandes
espaços que mantêm a atmosfera ideal para a nossa flutuação, a leveza das
abóbadas, o peso e a gravidade do assumido compromisso de fé misturado ao
festival de fantasias dogmáticas acumuladas por séculos. O gosto da história
envolve-nos de vez. Em plena metrópole, entramos numa catedral, saímos da
maldade mundana e encontramos o Deus que procuramos do jeito que o império de Roma
nos legou em herança.
Quando o homem religioso saiu da catedral,
alguém que não gostava de arte e seguia os conselhos do fradinho Lutero, bradou:
“Tudo aí dentro é vaidade! Para se chegar de verdade a Deus, basta lermos a
Bíblia”... Essa é a maior prova de que a nossa mente é manipulada em várias
direções, sem que percebamos, em sã consciência, o quanto somos usados pelas
pequenas engrenagens de uma grande máquina.
Do protestantismo, então, recebemos o Livro
com prioridade absoluta. É muito mais fácil: não tem prazo de validade e vem
canonizado... Contém uma teologia mais limpinha
de variações, pois o que está escrito não muda. Dispensa beatificações, assim
como canonizações de ossos. Mas, em contraposto, trata-se de uma organização
que não tem dono e isso traz uma divisão dos infernos. O Vaticano tem dono há
muito tempo e seus oponentes são representados por muitas ovelhas e milhões de
pastores rivais autônomos. Ainda dizem que é apenas um rebanho para um só
pastor... Os pastores são muitos, porque o mercado se amplia e eles não se
entendem. Para um, o batismo é assim, para o outro, assado. Para um grupo isso
é pecado, para o outro, não. O João daqui vai para o céu, o João de lá, não.
Mas eles têm o Livro!
De novo a Feuerbach, na sua visão de que a
religião é algo indissolúvel da natureza humana – de consciência abrangente –,
ele confere ao judeu-cristianismo uma qualidade antropológica. Nessa exata
dimensão, o deus recebe a herança antropológica que lhe dá forma. Ora, nessa
linha de pensamento, fica impossível o ateísmo pós-moderno, porque o homem
sempre vai ter saudade do deus parecido com ele... A partir do momento, então,
que o homem desmensurar o grau de
pensamentos e ações em comum com a divindade, liberta-se do
deus-pai-humanizado. A possibilidade do ateísmo pós-moderno já se discute. Mas
questiono novamente: até que ponto essa ideia pode sobreviver sem o Cristo? Se
a razão de toda a moral cristã é o seu criador, como representar o primeiro ato
sem ele? Questão de direito autoral? De mais a mais, as outras religiões não se
baseiam na moral cristã. Têm seu próprio sistema moral, como o islamismo.
Sem Cristo não há moral cristã. Sem o Livro
não há Cristo. Ninguém até agora me convenceu de que nossa natureza não é
receptiva e preparada biologicamente para funcionar pelo medo do inferno. Vamos
e venhamos que essa é a pedra no sapato do cristão, embora fira o princípio de alguns
vaidosos que afirmam obedecer a Cristo somente por amor e nunca por medo de
perder a salvação, ou ir para o inferno...
O homem que entrou na catedral para buscar
o Eterno se deparou com o maior medo até então conhecido por ele: o medo da
condenação eterna. Em pouco tempo ele descobriu que as coisas ocultas e
erradas, tanto por pensamento ou ação, que deixava de praticar, eram
exclusivamente por temor do castigo divino. Das punições aqui no mundo até a
fogueira do inferno... Embora seu desejo maior fosse obter a vitória sobre o
erro, totalmente por amor ao Eterno, só conseguia êxito quando se lembrava de
que poderia ser castigado por Deus se cometesse um erro voluntário. Quando ele
entrou na catedral, passou a conviver com a paranoia que acompanha o pacote da
religião. Ficou infeliz, mas anunciou ao mundo que, finalmente, conhecera o
amor, se libertara e que todos os obstáculos foram vencidos. Agora, através da
experiência recente, ele sabe o que significa uma palavra na boca e outra no
coração, pois ingressou na religião do Livro.
Na sua obra O futuro de uma ilusão, Freud situa as doutrinas religiosas como
ilusões e, portanto, insuscetíveis de prova. Ele afirma que ninguém é obrigado
a crer em dogmas, pois compara a crença em doutrinas religiosas a um delírio.
Pouco nos sobra de argumentos diante de certas asseverações de Freud: “Se o
único motivo pelo qual não devemos tirar a vida do nosso próximo é porque Deus
amaldiçoou tal coisa e prometeu nos castigar, então, ao descobrirmos que Deus
não existe, certamente exterminaremos o nosso próximo sem pensar duas vezes”. Ele
prossegue: “Assim, ou esses indivíduos perigosos terão que ser punidos com
rigor e mantidos afastados do saber intelectual, ou então a relação entre
religião e civilização terá que passar por uma revisão completa”.
Ao considerar a religião como uma ilusão, reafirmando
que o trabalho científico é o único caminho que pode nos levar ao conhecimento
da realidade externa a nós mesmos, ao longo de toda sua obra, Freud a finaliza
assim: “Nossa ciência não é ilusão – ilusão mesmo seria imaginar que aquilo que
a ciência não pode nos dar, poderíamos obter em outro lugar”.
Esse tipo de clericalismo ateu, o ateísmo
pós-cristão, que seria a aproximação dos valores da religião para usá-los sem a
atitude transcendente, é discutível, pelo menos no que tange às ações íntimas e
aos nossos pensamentos ocultos. É impossível a um ateu pós-moderno manter a conduta, nos parâmetros da moral cristã,
diante de situações que exigiriam a autenticidade de alguém que crê totalmente na
existência de Deus. Pelo fato de que o crente tem, inequivocamente, um vínculo
de fé íntimo e profundo com um ser superior. Esse vínculo implica num tipo de
temor à divindade que o ateu não conserva. Funciona na esfera neural – no nível
da inferência paradigmal injuntiva. É o que já cansei de mencionar: a
ocorrência da confirmação emocional da crença. Esse é o estágio em que a fé se
traduz no seu ponto mais alto. Ora, o cético não tem o mesmo fio condutor de sentimentos,
sensações e ideias. A já falada adoção da moral religiosa, então, fica na
superfície cognitiva.
Por que, desta feita, o ateu pós-moderno
tem que percorrer toda uma via-crucis
na posse de um processo cognitivo antinatural? Esse modus não pertence a ele, é do devoto: vem acompanhado da razão da
fé, que é atributo de quem a exerce. A moral não tem que ser religiosa e, sim,
a moral-moral. Segundo Michel Onfray, “a moral não é, portanto, um problema
teológico entre os homens e Deus, mas uma história imanente que concerne aos
homens entre si, sem nenhuma outra testemunha”. Por que, então, forçar uma
herança bíblica no campo da moral secular? Mais uma razão para que o cético não
faça empréstimos, pois o dever moral que o homem já tem no subconsciente não
vem da religião.
O que fazer daqui em diante com a interpretação
da moral fora do mundo transcendente? A visão que conservo do futuro como
resposta a isto se divide em três estágios: a conscientização do ser humano
para a necessidade de eliminar de maneira gradual a ilusão religiosa da sua
mente; a busca de uma nova ordem social, como requisito último para a
sobrevivência da espécie humana, baseada nessa conscientização; já que deve ser
absolutamente consensual entre os homens a ação proposta, essa ideia teria
necessariamente que estar fundada sobre um princípio incontestável: o controle
da natalidade. Só é possível haver reformulação moral através do controle da
natalidade. Da mesma forma que somente é possível o amor, a colaboração, a
compreensão e a recuperação da confiança entre os homens com menos homens sobre
a Terra. Utopia?
Repare-se que não aponto reformulação
social, quando já vivemos uma época de cinzas sociais. Apenas argumento sobre
uma saída para a preservação da espécie humana, a começar pela elaboração de
uma base moral sustentada por um princípio – o controle de natalidade. Isto não
é ideologia de direita nem de esquerda, é fator de sobrevivência. Não falamos com
frequência no ecossistema, em salvar o planeta do superaquecimento e das
mudanças climáticas, através da doutrina do politicamente correto? Por que não
se fala primeiro em salvar o homem através do controle da natalidade? Fora
disso, o que já temos hoje é um modus
de devastação da vida humana – a morte em larga escala para dar lugar à
natalidade em alta escala. Os sistemas de saúde, a violência urbana, os
desastres naturais e os conflitos bélicos não exterminam suficientemente os
humanos, como sabem os governos do mundo.
O encaminhamento do fim da fé que
conhecemos é inevitável pelo simples fato da religião não se constituir como um
fenômeno natural. A religião não é um fator genético, portanto deixa de ser
natural. Ela é transmitida através da linguagem e da simbologia própria,
fazendo parte de um processo de transmissão pedagógica. Se a religião fosse
natural, seria uma questão biológica – ela não é transmitida por genes –,
portanto, o simples fato dos filhos seguirem a religião dos pais não guarda
relação com a genética. Assim, veja-se: um time de futebol não é uma herança
genética, no entanto, o time do pai influencia o filho e, na maioria das vezes,
ele segue a escolha do pai pela vida afora.
No dictum, "pior cego é o que não quer ver", é uma forma de entender como escamoteamos
aquilo que percebemos ser verdade. Duvidamos de Deus o tempo todo, mas
preferimos escapar de tal posição interior, pois sentimos medo de saber mais e,
então, endossamos o Livro como palavra de Deus. O caminho mais fácil, assim, é
fazermos parceria com a ignorância em relação à nossa própria ignorância – à
preguiça intelectual que nos vitima...
O fim da fé na religião cristã, como em
outras, é inevitável porque os absurdos doutrinários têm prazo de validade,
ainda que pareça longo. Há de chegar o tempo em que o povo, por absoluto
esgotamento, não terá mais condições de engolir as bobagens de antanho:
transfusão de sangue proibida; batismo pelos mortos; até por aspersão, imersão,
infusão, profusão, confusão; metafísica de padaria – pão francês que se
transforma na carne de um espectro; beatificações com “milagres comprobatórios”;
línguas estranhas faladas por mentirosos; ressurreições; profecias neuropatológicas;
virgo intacta – a imaculada flutuando
no ar rarefeito para chegar ao céu; cura divina de enxaqueca ou dor de dente;
povo escolhido; fruto proibido no paraíso e milhões de outras estripulias
mágicas, firulas fideístas desnecessárias de comentário. Liames doutrinários
encaracolados na nossa vida!
Na sociedade fragmentada e exausta da
ultramodernidade, creio que o espírito da religião apenas se poderá manter em
estreitos segmentos debilitados – sem o estímulo dos séculos anteriores –,
devido ao desgaste massificado do conceito de transcendência. Cada vez mais,
será um atributo das classes de mais baixo realce intelectual. Penso que a
religião vai continuar, porém nas cabeças mais modestas... Isto porque, em
relação à religião do Livro, já acontece um fenômeno semelhante aos tempos de
Jesus, quando sua promessa da vinda do Reino não se consubstanciou na época.
Fato que provocou uma reinterpretação das Escrituras para que fosse adaptado o
rumo doutrinário pretendido. No mundo atual, acontece algo semelhante: os que
já sofreram mais na vida sabem que não há intervenção dos céus segundo a
expectativa individual dos crentes, nem o desenlace apocalíptico tão esperado
pelos crédulos da forma como eles sonharam.
Define-se, então, uma dúvida arrasadora na
mente dos devotos nos quatro cantos da Terra: “E se tudo aquilo em que
acreditamos realmente não for verdade?”... Como resultado, a filiação religiosa
passa a ser um incômodo e constrangimento para os que querem se manter crédulos
nas instituições, ao tempo que, na cabeça desses mesmos crentes, isso
representa o início da perseguição aos fiéis como previsto nas Escrituras.
O desgaste da ideia de Deus já é algo
irreversível, pelo simples motivo de ter sido provocado pela própria religião,
sobretudo a cristã. Seus representantes macularam o conceito de Deus quando
construíram os dogmas cavernosos e fizeram o Livro. Na literatura religiosa,
temos o campo mais fértil para a digressão, a fuga do real, passando pelos
confetes até chegarmos ao objeto de todas as religiões: a pedagogia do dogma
com sua toxidez inseparável.
O dogma vem da dogmática, que vem do
sacerdote, que lava o cérebro do
devoto e obtém dele a confiança para acreditar que a Bíblia foi escrita por
Deus. Esse mesmo sacerdote diz que Darwin é filho do Diabo e que de nada vale
ler sobre a evolução. O devoto aceita, então, a palavra do sacerdote, desiste
do saber, amaldiçoa Darwin – não porque confie no sacerdote –, ou por ser coisa
do Demo, mas porque ele já se acomodou na vida como preguiçoso mental, optando
pela ignorância sectária. Foi, então, construído um padrão defensivo na mente
do devoto, um desvio cognitivo conveniente, que o deixou mais aliviado através
da cumplicidade do sacerdote. Por isso é mais fácil ser devoto de qualquer
coisa.
O filósofo Daniel Dennett expõe a mecânica
de benefícios obtidos pelos poderosos sobre a massa da credulidade: “Todos na
sociedade se beneficiam, porque a religião faz com que a vida na sociedade seja
mais segura, harmoniosa, eficiente. Alguns se beneficiam mais que outros, mas
ninguém pensaria em querer acabar com a coisa toda. A elite que controla o
sistema se beneficia a custa dos outros. A religião é mais semelhante a um
esquema de pirâmide do que a um sistema monetário; ela prospera oprimindo os
mal informados e impotentes, enquanto seus beneficiários a transmitem de bom
grado a seus herdeiros genéticos ou culturais. As sociedades como um todo só
lucram. Não importa se os indivíduos se beneficiam. A perpetuação dos seus
grupos sociais ou políticos se reforça a custa de grupos rivais”. Vemos, assim,
a demanda da religião e o seu produto bem explícito nos resultados sociais. No
fim, o giro do capital tem a expressão mais sólida.
Toda essa engrenagem embute um moto contínuo
que sugere a perpetuação da religião, diante da sua variegada influência social
e com a diversão que ela parece proporcionar. Será? Sugere, apenas. É o ponto
que ainda sustento: a certeza de que esse mecanismo não será perpétuo, pela
razão de estar fundamentado em um Livro projetado para ser visto como santo, porém
submetido hoje ao método científico, que impôs nova interpretação
historiográfica. O desvalor causado
pelo questionamento recente dessa historicidade bíblica, sem dúvida chega ao
senso comum, que reinterpreta suas variações e se torna a geratriz de novo
fenômeno social.
Mesmo com tais fatos expostos, o impulso
religioso do homem não acaba e também a necessidade de confirmação dos padrões
emocionais, a menos que se aplique o adestramento neuronal já citado. Aprender
a pensar! Ainda que não proceda desse jeito, mas testar o pensamento como se o
mundo material, que está diante de nós, seja realmente a única coisa que temos
nessa vida. Devemos admitir, sim, que não somos o que, instintivamente, sentíamo-nos
tentados a pensar que éramos. A partir daí, então, busquemos o contentamento apenas
com o que somos: um evento biológico comum que acontece diariamente com os
iguais da nossa espécie por todo o mundo. Simples assim, nascimento e morte no
reino animal. Sei que é o mais difícil de alcançar, a renúncia, não como propôs
Schopenhauer na sua Metafísica do amor
– a renúncia da vontade –, mas a conscientização do processo da seleção natural.
Previsões religiosas são, em geral,
processos concludentes do senso comum a partir da observação simples, empírica,
da vida. É como a verdade de cada um.
Previsões dessa natureza são achismos de pessoas que jogam dados e não
justificam diálogo. Mas a visão de futuro em filosofia, mesmo extensiva à
religião, com dados científicos coligidos, é algo que merece ser analisado,
embora também esteja ao alcance da falibilidade.
No início deste livro, mencionei Carl
Gustav Jung a respeito do seu princípio que defende a impossibilidade de
penetrarmos na essência dos fenômenos psíquicos e que deveríamos desistir de
fazer de um fenômeno um problema intelectual. Com base em Freud, discordo de
Jung. Se esse postulado fosse verdadeiro, a psicanálise teria estacionado. É a
visão de mundo de um gênio, mas sem o fundo científico de Freud. Tanto é que,
na maturidade, Jung declara com exaustão transparente: “Desisto de chegar a um
julgamento definitivo, pois o fenômeno da vida e o fenômeno homem são
demasiadamente grandes. À medida que envelhecia, menos me compreendia e
reconhecia, e menos sabia sobre mim mesmo”. Ao prosseguir, “Não estou certo de
nada. Não tenho mesmo, para dizer a verdade, nenhuma convicção definitiva – a
respeito do que quer que seja”. Ainda, para terminar, Jung diz: “Como em toda
questão metafísica, as duas alternativas são provavelmente verdadeiras: a vida
tem e não tem sentido, ou então possui e não possui significado. Espero
ansiosamente que o sentido prevaleça e ganhe a batalha”. Acontece que Jung
sempre me pareceu um homem dividido. Suas crises de transcendência me
impressionam justamente pelo gênio da psicanálise que foi. Em Freud, nunca vi
desvios dessa natureza.
Jung hesita sobre a vida ter ou não
significado. Não. A vida não tem significado. Nós é que temos o dever de
infundi-lo na nossa existência. Através de um grande amor, do casamento, dos
filhos, do trabalho, da carreira pretendida, ideais artísticos ou científicos,
enfim, do que acharmos importante e que sirva para seguirmos em frente. Ao
lermos Darwin, vamos perceber que não somos o que imaginávamos ser e que o
significado da vida é a própria vida.
Embora esteja a discorrer sobre minha visão
em relação ao futuro da religião, isto pertence ao meu mundo perceptivo. Para
qualquer pessoa que investigue algo, é como bater uma falta do meio de campo, uma
ação repleta de fatores imprevistos. Mas insisto em afirmar que o cristianismo
tradicional sofrerá um abalo sísmico, porque, com a evolução do método
histórico-crítico, a Bíblia despertou suspeitas sérias. Novas formas de
cristianismo surgirão, alternativamente, com a supressão dos dogmas, voltadas
para os menos favorecidos de intelecto, o que já acontece através dos “apóstolos”
emergentes. Será a época da bricolagem
doutrinária cristã. As instituições que desfraldam suas bandeiras doutrinárias
mais tradicionalistas podem desmoronar por causa do descrédito das Escrituras.
Judaísmo e islamismo farão parte dessa mudança por também serem religiões do
Livro – têm a Torah e o Corão.
O
antídoto de maior monta em relação à religião é, sem dúvida, o processo de
secularização que atingiu as fés do mundo. O que foi imposto no Ocidente como
sagrado há séculos, não tem mais o mesmo significado e isso concorre para a
demolição do edifício cristão. Outrora, a Igreja de Roma era forte –
inexpugnável e impunha dogmas. Hoje, papas são substituídos pela pressão de uma
sociedade pluripartida, divergente e amoral.
O que mais me impressiona nessa sociedade
patética, até realço o termo, é a pluralidade
de pensamento dogmático que ela nos demonstra. Refiro-me, também, ao
desdobramento do pensar religioso, repetitivo e confuso. Mercantilista e doloso.
Esse fator debilitante, fenomênico-social, é que deveria nos preocupar em
relação ao futuro. Por certo, é a fragmentação social, a pluralidade doutrinária
galopante, que se projeta no fator religioso atolado na corrida do ouro,
empreendida pelo clero.
A Igreja, aliás, se preocupa sobremaneira
com a comunidade física, com o corpo, que soma para manter a aglutinação do
grupo através das ofertas, dízimos, celebrações e trabalho voluntário. A igreja
finge que se preocupa com o interior do fiel, com sua relação com Deus, mas
isso é a última coisa com que ela se preocupa, pois não tem controle sobre a íntima
relação do devoto com a divindade. Logo, é o corpo que interessa ao clero. Mas,
como animistas obcecados, pagamos para ser enganados: somos fiéis nos dízimos e
nas ofertas. Para as fantasias do além, nosso cérebro hospedeiro fica feliz
quando o clero repete: “Jesus te ama”...
Meu entendimento sobre o futuro da religião
traduz-se nos efeitos da pluralidade de conceitos individuais, egoísmo, fome do
ouro e absoluta falta de amor de uma sociedade decadente, em imbricação, que
segue uma linha de descenso, sem retorno. O cristianismo subdividido ao
extremo; o judaísmo no seu invólucro de gesso milenar e o islamismo na sua
beligerância enferma. Os três monoteísmos estão desqualificados, devido aos
tijolos ruins que foram usados na construção dessas religiões de obsolescência
completa. Os três monoteísmos com seus livros que deveriam ter sido arquivados
na biblioteca de Alexandria...
Comunismos e capitalismos naufragaram
enquanto idealismo puro. Aliás, para mim, o comunismo nunca existiu, porque
jamais passou de utopia. Alguns setores acadêmicos tentam revitalizar o
marxismo com novas roupas de domingo, mas não foi a casa deles que caiu, foi o
muro! Há muito tempo... E um muro feito para aprisionar os que estavam por lá,
enquanto que as cercas na América existem para controlar a entrada de
imigrantes ilegais... Do comunismo queriam fugir, em busca do capitalismo. Quanto
ao capitalismo, é o que temos. Com a selvageria e injustiça típicas, é o meio
natural por excelência, correnteza em que todos querem nadar. Ora, há muito
percebemos que o Estado é sujo demais para administrar o capital nosso de cada
dia.
O pior no capitalismo é que ele não existe
sem a religião, precisa dela para que a riqueza seja transferida para as mãos das
elites através dos monstros do clero. Nessa ditadura do capital, o deus da
religião atua no palco da carpintaria humana, através da ideia da multiplicação
abençoada dos bens materiais das “elites globalistas fiéis” e da prosperidade
como vontade divina. Esse deus recebe, então, a sua parte dos dez por cento e
ofertas como comissão. Abençoa a construção dos seus templos, administrados
pelo clero, com o apoio do séquito angelical, que dá uma mãozinha nas relações consoladoras
com os fiéis do proletariado. Aliás, o pobre economiza água para o rico
gastar...
Quem, então, representa o capitalismo e
recebe das mãos do clero a parte
contratada na transferência das riquezas acumuladas pelo povo? Os cleptocratas.
Um compartilhamento comercial, societário, sem a perda da ideologia. São eles
que tecem o governo secreto do mundo, alimentado pela ignorância dos ingênuos,
que precisam do imperativo ético de que exista alguma coisa e não somente o
nada. Os crédulos querem esse imperativo e não adianta demovê-los. São
teimosos, pagam pela ilusão e mantêm a aliança entre os cleptocratas e o clero.
Os crédulos não enxergam o pano de fundo
político e cruel que são obrigados a suportar. Os fiéis se satisfazem com a
expectativa ilusória de ter um lugar
preparado no céu para eles... Se a cleptocracia impera no mundo, em todos os
setores, devemos aos crédulos incorrigíveis.
Na construção da porne,
que compõe o binômio “Estado e seita”, as Escrituras sagradas têm o peso total. Através da palavra, registramos em
páginas o pensamento, as ações antropopáticas e as idiossincrasias do deus
formatado pelo judeo-cristianismo. Nos politeísmos não era necessário o
registro em livros, pois não havia dogmas nem doutrinas. Não estava delineado
ainda o conceito de pecado dos monoteísmos. Cada um escolhia o seu deus para se
relacionar da forma mais estranha e segredada possível. Mas, no monoteísmo, uma
vez as normas coligidas e registradas no Livro ficaram santas – viraram
teologia!
No exercício entre católicos e protestantes
de comer as carnes uns dos outros com cuidado mútuo, sem chamar a atenção da
sociedade pelo canibalismo doutrinário, a Bíblia sempre teve um foco diferente
entre eles. Para os católicos, o que importa é o conjunto da teologia da Santa
Sé e seu gerontocrata ser obedecido. A Bíblia vai de suporte. Já os
protestantes, têm o Livro no lugar do papa: é o poder da sola scriptura.
O primaz dá lugar à interpretação do freguês. Sobre tal polêmica, o jornalista
americano Henry Louis Mencken, que escreveu o Livro dos insultos, foi prático no que deixou: “Os únicos
protestantes realmente respeitáveis são os fundamentalistas. Infelizmente, eles
são também bastante idiotas”. Discordo de Mencken, pois se fossem bastante
idiotas não teriam conseguido passar por cima da autoridade do pai da Igreja
romana e permitido que os adeptos do protestantismo estabelecessem a maior das
concorrências, ao elaborar as próprias doutrinas...
A
Santa Sé é una, corpo blindado. Não permite interpretações secundárias. Os
filhos de Lutero ficaram soltos e a característica principal desses devotos é
como convivem com a concorrência... As doutrinas são as mais doidas e variadas.
Na Santa Sé, quando sai a fumacinha da chaminé, é porque Deus já nomeou outro
senhor de idade para administrar aquela beleza cheia de arte. Nos feudos
protestantes, são pequenos senhores, sem nenhuma expressão intelectual na
maioria das vezes, que interpretam o Livro ao bel prazer e administram felizes
os rebanhos. Sem cajado, mas com belas gravatas, belos carros e suas mulheres
não tão belas. Qualquer coisa, os senhores feudais pegam o livro, que eles
chamam de espada e cortam a alegria do fiel, dizendo que no cristianismo é preciso
aprender a ter paciência. Se Deus não atendeu dessa vez é porque o tempo dele é
outro, ou talvez exista algum pecado oculto no reino das margaridas...
Ainda falando sobre a minha visão do futuro
da religião, temo que, enquanto houver pelo menos dois seres humanos sobre a Terra,
a superstição religiosa continuará a existir. Digo dois seres, pois sempre
haverá o trabalho pedagógico de um
indivíduo tentando convencer o outro...
Cheguei à conclusão de escrever este livro pela
necessidade de provar minha honestidade nos assuntos que dizem respeito à
religião, sobretudo aquela que ocupou a maior parte da minha vida. Cansei de
reverenciar a pastorada, mais carnais do que os padres da própria Igreja
romana. De tempos para cá, analisei melhor a ciência em relação à fé e percebi
que com a fé desenvolvemos um tipo confiança, mas com a ciência, a certeza.
Prefiro mil vezes ter certeza, antes de ter confiança naquilo que me dizem ser
o certo.
Optei, assim, por investigar o Livro da
religião judaico-cristã, que se tornou, aos poucos, ineficaz na minha vida e,
como resultado, a maior decepção que já sofri até hoje. Pelo menos, enfrentei o
desafio de questionar a Bíblia e me sinto muito melhor do que antes. A
diferença é que hoje sou livre.
Christopher Hitchens,
brindado por ser conhecido como um dos “quatro cavaleiros do Apocalipse”, um
herói na luta pela verdade, declarou no seu livro God is not great: “Após o terrível tsunami da Ásia em 2005, e
depois da inundação de Nova Orleans, em 2006, homens bastante sérios e
instruídos como o arcebispo de Canterbury foram reduzidos ao nível de
camponeses bestificados ao agonizarem publicamente sobre como interpretar a
vontade de Deus na questão. Mas se a pessoa faz a suposição simples, baseada em
um conhecimento absolutamente certo, de que vivemos em um planeta que ainda
está resfriando, tem um núcleo fundido, falhas e rachaduras em sua crosta e um
sistema climático turbulento, então simplesmente não há a necessidade de tal
ansiedade. Tudo já está explicado. Eu não consigo entender por que os
religiosos relutam tanto em admitir: isso os livraria das perguntas fúteis
sobre porque Deus permite tanto sofrimento. Mas aparentemente esse incômodo é
um pequeno preço a pagar para manter vivo o mito da intervenção divina”.
Hitchens prossegue no discurso, agora ressaltando a condição humana: “Aqueles
de nós que tinham buscado uma alternativa racional à religião tinham chegado a
um limite que era comparavelmente dogmático. O que mais esperar de algo que
tinha sido produzido pelos primos mais próximos dos chimpanzés? Infalibilidade?
Assim, caro leitor, se você chegou a este ponto e descobriu sua própria fé
abalada – como eu espero –, estou disposto a dizer que de certa forma sei pelo
que você está passando. Há dias em que sinto falta das minhas antigas
convicções como se elas fossem um membro amputado. Mas em geral me sinto
melhor, e não menos radical, e você também irá se sentir melhor, garanto,
quando se livrar da doutrinação e permitir que sua mente livre pense por conta
própria”. Hitchens morreu há pouco tempo e, certamente, todos os devotos do
cristianismo dirão em uníssono que ele foi para o inferno. Mas existe outro
fora daquele em que vivemos?
Meu livro não foi escrito para questionar a
existência de Deus, mas para discutir a construção da Bíblia. Ninguém conseguiu
provar até hoje a existência ou a inexistência de Deus, nem eu vou perder tempo
com isso. Para mim, se Deus existe, não é da forma que aprendemos. Os homens
inventaram a Bíblia e dizem que é a palavra de Deus para poder justificá-lo.
Não acredito mais nisso.
Quando, então, me falam muito de Deus,
apenas respondo: qual Deus? Para que essa pergunta encontre resposta, é preciso
que sejam apresentados dogmas, doutrinas e histórias fantásticas para formatar
o Deus de quem se fala. Não há como se propor a existência de um ser superior
desvinculado da dogmática. Só o dogma desenha o perfil de Deus. Fora disso, é
conversa perdida.
É só fazer um teste. A título de
experiência, tentemos construir um deus, com todos os seus predicados, que não
tenha qualquer base doutrinária conhecida para que ele seja sustentado como
tal. Quais seriam esses predicados e atributos próprios? Onipotência,
onisciência, onipresença, onibenevolência, etc. Onde encontrar os argumentos de
sustentação para esses atributos? Na Bíblia cristã, na Torah, no Corão. Estamos
falando dos monoteísmos. Mas os livros não nos interessam agora, já tocamos neles.
O Livro foi exposto, discutido. Voltemos à nossa tentativa de construção de
Deus sem as Escrituras. O que resta para prosseguirmos? Vamos lá, tentem!
Impossível, não? O Deus que conhecemos
só pode ser intuído através do Livro, que está aí há milênios. E o livro não é
muito confiável, longe de ser perfeito...
Não aceito o rótulo de agnóstico. Se eu tiver,
porém, que ser enquadrado num rótulo, o de ateu protestante ou ateu católico é
a minha preferência, já que essas foram as duas religiões mais predatórias que
fizeram a minha existência de alvo. Então, acho que vou ficar com o humanismo
secular.
Pelo fato de alguns pensadores defenderem a
ideia de que os homens não abandonam, com a ajuda do raciocínio, o que eles não
adquiriram pelos meios da razão, não representa uma verdade absoluta. Não
adquiri pela razão a fé cega que me prejudicou no passado, foram os desvios
cognitivos. Mas o fato de ter deixado para trás essa mesma fé, devo exclusivamente
ao conhecimento humanístico que me fundamentou. O que ocorre, é que abandonei a
ilusão religiosa por uma razão cultural. Porque acredito no intelecto e no
poder do conhecimento científico.
Nunca fiquei em “cima do muro”, porém,
aceito o princípio da admissibilidade da existência de um ser ou seres superiores,
mas como não há nenhuma prova desse deus, não vou perder tempo discutindo
abstrações. Por outro lado, quem somos nós para afirmarmos a existência ou a inexistência
de um ser superior que possa ter interferido na orquestração do universo? Não estamos
situados fora do espaço-tempo para sustentar algo assim e isso não tem nada a
ver com a ciência no estágio em que se encontra. Não é uma visão agnóstica, é
incompetência humana.
Se um ser superior existir de fato, com
sentido claro e profundo, quero compreendê-lo, com certeza. Se ele quiser
cuidar de mim será ótimo, ficarei muito grato, porque não fiz nenhuma solicitação
para vir morar nessa colônia penal. Mas, em relação ao nosso planeta, a teoria
da seleção natural de Darwin é mais do que bastante para sanar qualquer dúvida,
pois anula cientificamente o casal do Éden e, como consequência, o Livro que
inventaram para perpetuar o judeo-cristianismo através dos séculos. Fica
admissível filosoficamente, então, o questionamento do deus da religião.
Quando se fala em Charles Darwin no meio
religioso, as pessoas se calam. Por quê? Ah... Porque é um assunto pesado
demais para aqueles que gostam de historinhas como a da Fada do dente e pretendem prosseguir com a vida de quimeras! Sam
Harris
se refere ao assunto sem rodeios: “Os cristãos que duvidam da verdade da
evolução costumam dizer coisas como ‘a evolução é apenas uma teoria, não um
fato’. Tal afirmação revela uma séria falta de compreensão sobre a maneira como
o termo ‘teoria’ é usado no discurso científico. Na ciência, os fatos devem ser
explicados com referência a outros fatos. Esses modelos explicativos mais
amplos são ‘teorias’. As teorias fazem previsões e podem, em princípio, ser
testadas. A expressão ‘teoria da evolução’ não sugere, de maneira nenhuma, que
a evolução não seja um fato. Pode-se falar na ‘teoria da origem microbiana das
doenças’ ou na ‘teoria da gravidade’ sem lançar dúvidas sobre a doença ou a
gravidade como fatos da natureza... Também vale notar que é possível obter um
doutorado em qualquer ramo da ciência com a única finalidade de fazer um uso
cínico da linguagem científica, no esforço de racionalizar as gritantes
deficiências da Bíblia. Parece que um punhado de cristãos já fez isso; alguns
até conseguiram diplomas de universidades de prestígio. Sem dúvida, outros
seguirão seus passos. Embora essas pessoas sejam, tecnicamente, ‘cientistas’,
não estão se portando como tal. Elas simplesmente não estão empenhadas em uma
pesquisa honesta sobre a natureza do universo. E as suas afirmações acerca de
Deus e das falhas do darwinismo não significam, em absoluto, que haja uma
polêmica científica legítima acerca da evolução. Em 2005 foi realizada uma
pesquisa em 34 países, que mediu a porcentagem de adultos que aceitam a
evolução. Os Estados Unidos ficaram na posição número 33, logo acima da
Turquia. Enquanto isso, os estudantes secundaristas nos Estados Unidos se
classificam abaixo dos estudantes de todos os países europeus e asiáticos em
testes de compreensão de matemática e ciências. Esses dados são inequívocos:
estamos construindo uma civilização da ignorância... Eis aqui o que sabemos.
Sabemos que o universo é muito mais antigo do que a Bíblia sugere. Sabemos que
todos os organismos complexos que há na Terra, inclusive nós mesmos, evoluíram
a partir de organismos mais antigos ao longo de bilhões de anos. As provas são
absolutamente esmagadoras. Não existe nenhuma dúvida de que a diversidade da
vida que vemos ao nosso redor é a expressão de um código genético escrito na
molécula do DNA, que o DNA passa por mutações aleatórias, e que algumas
mutações aumentam as chances de um organismo sobreviver e se reproduzir num
dado ambiente. Esse processo de mutação e seleção natural permitiu que
populações isoladas de indivíduos se reproduzissem e, ao longo de vastas
extensões de tempo, formassem novas espécies. Não há dúvida alguma de que os
seres humanos evoluíram dessa maneira a partir de ancestrais não humanos.
Sabemos com certeza, a partir de evidências genéticas, que compartilhamos um
ancestral comum com os símios e os macacos. E mais: esse ancestral, por sua
vez, tinha um ancestral comum com os morcegos e os lêmures voadores. Existe uma
árvore da vida extremamente ramificada, cuja forma e caráter básicos são hoje
muito bem compreendidos. Assim, não há nenhuma razão para acreditar que cada
espécie foi criada em sua forma atual. De que modo começou o processo da
evolução continua sendo um mistério, mas isso não indica, de forma alguma, que
provavelmente exista alguma divindade à espreita por trás de tudo isso.
Qualquer leitura honesta do relato bíblico da criação sugere que Deus criou
todos os animais e plantas tais como nós os vemos agora. Não há dúvida alguma
de que a Bíblia está errada acerca disso”. A história verdadeiramente se divide
em antes e depois de Darwin...
De uma coisa tenho certeza: o mal existe de
uma forma mais evidente que o bem. Qualquer um vê. O mal é sempre barulhento,
enquanto o bem é silencioso e mais fraco. Seja lá o que se chame de bem, é o esforço
individual ou coletivo para se atingir um ideal, um pensamento que nos deixa
dúvidas. Na contramão, qualquer nome que se dê ao mal, Satanás, Asmodeus,
Astaroth, Diabo e família, ou mesmo Mal
pura e simplesmente, é o que ocorre de jeito ininterrupto na vida dos homens. Ou,
quem sabe, um ser que poderia desempenhar o papel de Deus, se intitulasse como
tal diante dos homens, mas que tivesse também a função de praticar o mal? Por
causa dessa trevosa ininterrupção, as religiões foram criadas, pois o Bem precisa
do Mal para existir... Mas os do clero não resolveram o problema do mal, pelo
contrário, ainda dizem a nós, coitados, que a culpa não é da religião – que foi
o pecado original! Nossos pais das origens
nos deram esse presente.
Como Christopher Hitchens mencionou as suas
convicções passadas, às vezes também sinto saudade das minhas antigas
convicções religiosas, mas entenda-se bem: saudade de algo leve, esperançoso,
festivo, com segurança, que dava impressão de alguém conduzindo nossos passos a
cada instante... Mas era só impressão. Quem não tem saudade da época das
fantasias? Que pena, ao avançarmos no conhecimento, caímos no mundo real. Mas é
a escolha certa para enfrentar a vida com consciência.
Hoje, percebo o tempo perdido, tento
resgatá-lo, mas em vão. Minha experiência religiosa do passado, entretanto, deve
ter um aspecto necessário qualquer, pois cada um busca preencher vazios de
acordo com a época em que vive e as dúvidas que enfrenta. Vejo que os jovens,
na maioria, não têm problemas com dúvidas religiosas que os confunda. Apenas não
estão interessados nisso. Outros há que questionam em tempo integral,
frequentam igrejas, cumprem rituais e são filiados a instituições religiosas
diversas. É de cada um. Quanto a mim, houve muito empenho para encontrar as
respostas esperadas. O mais difícil foi reunir a coragem e a honestidade necessárias
para dar o primeiro passo na direção das minhas convicções. Mas valeu a pena.
Só passando pelo deserto é que conhecemos a
sede e os espinhos. Admito, portanto, a importância de todas as etapas da
estrada. Por essa razão, tenho condições para falar delas de dentro para fora. Acho
que a igualdade de ações e propósitos entre os homens foi minha descoberta mais
importante. Todos querem a mesma coisa. Somos a mesma coisa: queremos servir a
Deus e ficar ricos. Somos uma coisa em evolução biológica e cultural, que
retrocede ao estado natural várias vezes ao dia. A barbárie está em nossos
bolsos para uso contínuo e não abrimos mão disso...
Como Hitchens, lamento não estar mais na
ilha da fantasia. Mas escolho a visão de hoje, com toda a carga de realidade que
ela traz. Muitos permanecem na ilha da fantasia, morrem nela, mas quando se
descobre com convicção a realidade do mundo, não dá para desfrutar mais de uma
felicidade convencional, pois é apenas um pensamento. Hoje, tenho a felicidade
do ser-saber – ontologia dos desiludidos e desigrejados.
Antes, era o caminho fácil. O de agora, percorre-se a cada dia, é aleatório,
único e sem enfeite. É melhor.
O que se há de fazer? Simplesmente, andar
pelo caminho, que pode representar o devir da própria felicidade. Nesse
roteiro, a escolha tem que ser feita: sentar para esperar o fim, resignados –
amém – ou buscar significados aqui, não no além. Construir ideais, objetivos,
razões. Não tolas, como o consumismo de per
si, mas o consumo dos instantes, fazendo-os preciosos. Daí, significantes.
Achar padrões para o mundo em que vivemos, conferindo-lhes significados
elevados, porém para a vida na Terra, não nas estrelas. O amor não faz mal a
ninguém e não precisa ser transcendente, deve ser o elo principal entre todos
os seres daqui. Falar em amor celestial, enquanto as “verdades” não nos
convencem? Só pelo fato de estar escrito na Bíblia que as coisas iriam piorar
no fim dos tempos? Ora, voltamos às hipóteses? Confiar na Bíblia depois do
método histórico-crítico, eis a questão. Fé e razão serão sempre inconciliáveis,
apesar de alguns verem o contrário. Acho que o amor com dimensão profunda, por aqui,
pode ter um resultado melhor do que fantasmas irresponsáveis pulando amarelinha
pelos planetas, universo afora, ao invés de cuidar de nós...
Antes de perder a fé no deus político, que
promete, não cumpre e nunca nos responde, perguntei a uma pessoa amiga que
renunciara ao deus da religião, a quem ela recorria nos momentos de apuro. Com
quem ela contava nos momentos de desespero, ao que me respondeu: “Eu analisei a
vida e só conto comigo! Vou contar com quem, meu amigo?”...
Por falar em analisar, foi o que aprendi a
fazer muito bem. No caso dos religiosos, parei por anos na análise de minúcias.
Os mais fervorosos são os que se
preocupam em exibir a “perfeição” alcançada. São indivíduos imprevisíveis,
embora agindo dentro de uma previsibilidade aparente aos olhos da sociedade,
abrigam os sentimentos mais multifacetados e contraditórios possíveis. Não são
dignos de confiança, por estarem próximos
demais do Criador.
O sectário de carteirinha é perigoso,
covarde e calculista. Ele precisa mostrar que, sem o dogma, todos seremos mais
e mais reféns da perdição. Cobram santidade dos fiéis e, psicanalisados, não
ocultam, às vezes, desvios sexuais dignos dos livros negros da medicina do
século dezoito, sendo a pedofilia a forma mais suave.
A Igreja alimenta a crise porque a crise
sempre atrai as pessoas para a fé e, nesse processo, a religião nunca se
desgasta pelo seu fracasso oculto, pois a culpa é sempre nossa. A lógica da
exclusão funciona desse jeito... A Igreja delega aos fiéis cargos e atributos
para encorpar a vaidade nas suas vítimas, que se sentem impelidas a um esforço
sobre-humano no desempenho de uma nova personalidade. Foram renascidos e
transformados por Deus? Não. Foram deformados pela máquina de moer carne da
Igreja, que lhes promoveu a quasímodos espirituais... Por essa razão, Nietzsche
definiu a fé cristã como um grande mal-entendido.
Antes de um julgamento por parte dos
leitores e uma possível condenação aos horrores da eternidade por expor meus
graves pontos de vista, peço que pensem sobre o que significa a palavra
honestidade. Fácil é julgar, aliás, nunca se julgou tanto o ser humano, pois os
pensamentos divergem entre os homens como em nenhuma outra época da civilização.
Talvez devido à difusão diversificada do conhecimento humanístico. Em relação à
palavra honestidade, é o requisito básico para a evolução do pensamento e,
então, optei por questionar a religião em nome dessa honestidade. O que você
faria no meu lugar? Quando se chega ao entendimento sobre a natureza da
religião e a natureza humana, como prosseguir na arte cênica? Como representar
mais um ato? Temos que atender à nossa consciência, mesmo sob a pena de sofrer acusações
e julgamento dos detratores!
De que adianta ser um religioso hipócrita?
Tenho certeza de que, se houvesse um julgamento divino, a honestidade como
divisa do réu definiria a sua absolvição. Por isso, a proposta de Pascal já não
me convence. Procurei, por todas as formas, conciliar minha visão de hoje com o
deus da religião, mas foi um fracasso, pois as naturezas são opostas.
Incoadunável. Preocupei-me em ficar sem religião, sem os irmãos e a proteção
que o meio parece dar. Mas o problema é que escolhi ser honesto comigo mesmo –
com todos –, em relação à minha posição espiritual.
Com minúcias, analisei as reações da sociedade
sobre o homem que pensa cientificamente. Percebi a atitude de medo da massa
ignorante com aqueles que têm certeza intelectual. A massa ignara sente-se
ameaçada, arrepia-se e discrimina cegamente qualquer um que questione a
religião. Profere julgamentos insidiosos, suspeitas padronizadas, acusação de
assassinato de Deus e não é preciso mais. Mas isso, ainda bem, tem origem no
populacho fanático. É próprio de uma classe intelectual que não mede as
palavras nem o julgamento precipitado. Não pensa e precisa se pronunciar a todo
custo, ainda que de maneira torpe.
Os desse populacho não raciocinam e sentenciam
aqueles que não pertencem ao senso comum, “o homem sem Deus é como um verme que
rasteja”, vociferam... Não têm noção do que dizem, mas precisam fazê-lo. Emitem
qualquer juízo, desde que haja respaldo e repercussão entre os “fofoqueiros
santos” dos meios religiosos, não importa quais sejam. Precisam acusar o que
não entendem. Blasonar qualquer coisa, pois não têm opinião própria, mas a do
grupo social de pertencimento. Se o mundo dependesse deles, ainda estaria nas
palafitas das origens humanas. Acusam tudo que não conhecem em busca de apoio,
por serem fracos, exatamente porque gostariam de ter coragem de abraçar o
pensamento livre e o lado feliz da história.
Quanto vale ser honesto? Vale o preço da
liberdade. Por todas as razões aqui expostas, tive coragem de duvidar, expor-me
às críticas e lutar pelo meu ponto de vista. Para os antigos, até os do século
vinte e um, isso significa perder a salvação. Como posso crer no deus das
ameaças, que Michelangelo pintou na Sistina, no deus confuso do tio Gepeto?
Para algumas pessoas talvez seja bom insistir numa fé cega em coisas do além...
Até pode ser que se sintam felizes, mas eu deixei a embromação de lado.
Mostrei a invenção da Bíblia nesta obra e, indubitavelmente,
são comentários nada convencionais, que abordam uma triste ilusão histórica.
Quero, então, ser direto. Não vou encerrar estas páginas com divagações
demagógicas, como fazem alguns escritores céticos, dando conselho para aproveitarmos
os dias nesse mundo. Não vou encerrar este livro pregando simulações de ajuda ao
próximo e defender os valores morais como forma de não sofrer acusações do
tipo: “se um indivíduo é cético significa que é mau ou não tem caráter”... Não
preciso escrever assim, pois sempre tive certeza de que a religião não faz o
homem. Ela é que precisa se associar desesperadamente aos homens de valor e usá-los,
sem que percebam, para prosseguir com a alienação das massas...
A
verdade deve ser o centro da nossa busca e a fórmula para encontrá-la é
examinar tudo que esteja por trás das coisas que se apresentam como verdadeiras.
Quando a política, a intenção de lucro financeiro e o interesse em qualquer
tipo de poder invadir aquilo que respeitamos, é melhor que se desconfie seriamente.
Que se desconfie também dos gestos de
amor, promessas e palavras com aparência de conteúdo. Cuidado com os que falam
que as coisas são sagradas e suspeite, acima de tudo, daquele tipo vaidoso que
se intitula “homem de Deus”, pois esse pode ser um réptil que desliza no jardim
do nosso Éden. Ninguém é homem de Deus.
Bem, por aqui termino, mas com um conselho
oportuno para melhorar a prática da leitura no dia a dia. Sabem como descobri
todas essas coisas sobre a Bíblia? Minha visão não estava muito boa, então
consultei um oftalmologista, que me receitou um par de óculos. Era miopia e,
por isso, não conseguia ler a Bíblia com clareza... Brincadeiras à parte, não
me sentia mais do que um míope intelectual no passado, pois não aprendera a
pensar. Agora entendo como as coisas funcionam e como foi inventada a religião
do Livro, que não me engana mais.